13.12.08 - Ruidocracia

É sempre bom ver um neologismo seu se proliferar
ruidocracia
{estudo para o arcano XIII}
[1+12=13]Dentro da democracia dos signos não há espaço possível para o ruído, relegado à mera função de interferência ou adorno no paisagismo. Com isto sacrifica-se à margem qualquer possibilidade de sondagem profunda do ruir em si mesmo quando parte-se da linguagem.
[2+11=13]O signo do ruído é o cerne da tecnicologia dos dois extremos controles do demo(massa) aurais: No religar semiótico, permite aos ciclopes a contemplação da própria morte(XIII) ao mesmo tempo que os atira na surdez das iterações(progressões de redundâncias timbrísticas), eterno retorno da escala ao paraíso perdido da harmonia subjetiva(Ninguém me acertou). Já nas políticas simbólicas, gera os limiares das interações materiais dos objetos sonoros seja pela imanência heurística que transmuta o ruído novamente em sonema, como pela homeostasia dos sistemas musicais que imprime o foco tonal à redundância sonora de acordo com as dinâmicas entrópicas da rede.
[3+10=13]Podemos então falar de um ciclo de três modos de escuta do ruído dentro à natureza composicional, assim como podemos pensar um sentido como ruído(impregnação) do outro. Mas ainda, o multimídia quer estar em todas as modas ao mesmo tempo, para as dest'ruir.
[4+9=13]Ruído científico-profano: O ruído organizado como se observa no ícone matemático do ruido branco(white noise). O empalidecimento dos matizes cromáticos do barulho
 gerado na síntese log arrítmica compõe a síntese dum espectro afetivo-racional. Os cães, como a estrela Sirius de Stockhausen vêem em preto e branco e ouvem melhor a síntese granular das altas freqüências que a pulsação esféride. 
[5+8=13]Ruído sagrado: O índice dos silêncios potenciais, as paisagens sonoras em suas implosões de cores e sutileza de matizes. O templo é sagrado porque não está à venda para culto algum, o tempo é sagrado porque não pode ser cartografado. Color noises. João Jaula, procurando silêncios encontrou ruídos, buscando morangos achou cogumelos, buscando o tempo se deparou com a dança e a performance.
[6+7=13]Ruído comercial-laico:  O barulho é o produto cultural ideal, pois não distingue a produtores e consumidores, mantém o trabalho da escuta no nível prototípico da soação sem perder nada da geometria tipológica da música. O que não é barulho brilhante no mercado cultural se restringe a interferência sistêmica(metaruído), mas sempre haverá um nicho de consumidores ávidos por turbilhões e é do mote fordista any color you lik
e as long as it's black que os sabbaths encontram seu caminho no seio da indústria da rebeldia. Black noise.  Xenakis, o arquiteto busca ver com os sons pelo resto de sua vida o brilho da granada que lhe tomou um olho e um ouvido. A estocástica como religiosidade científica do ruído, a composição concreta dos desertos em rolos de memória. É noise na fita!
[0+13+0=13]O ideal de um mundo sem ruído político é alcançado pelo entranhamento de dois modos de conduta sonora: Uma codificação quântica em velocidades sempre acelerantes que prende os ouvidos pelas cadeias de Markov a uma certa faixa repertorial(as óperas de surdos-mudos da Cia. Invisível de Teatro Alchemico), ao mesmo tempo que uma exclusão pela inclusão como a observada no maximalismo academicista do fim de século. Este, pelo cálculo de todos os afetos musicais se nega a sentir as escutas que produzem seus sons(dir
eito autoral / dever atuante); se assemelhando assim com a irreversível entropia dos mercados de pasteurização fonográfica, que por excesso de redundância passaram a ser não mais que barulho para muitos.
[13+1=14]Laranja Eletrônica, os sonhos tangerinas dos rappers hackers acionistas de Beethoven nos templos do mantra de baixa tecnologia cruzam Dylan escarrando num intonarrumori: "Em direção ao abismo metálico entre os transistores e as cordas das guitarras... o ruído branco encontrará enfim o blues dos negros, as musascagam minérios em nós da névoa roxa antevista pelo terceiro ouvido de Hendrix ao roxo profundo das cabeças de máquinas... Nobody's gonna beat my car / It's gonna break the speed of sound / Oooh it's a killing machine / It's got everything."
[13+2=15]Sketch's Kitsch! A música como a melodia é em tempos de ostentação ruidística sempre meramente esboçada: ou sublimada pelo escárnio ou r
emixada pela obsolescência programada. Vês as rédeas que os produtores colocaram nas bandas pelas próprias bandas de freqüência? No futuro toda canção terá seus 15 segundos de barulho.
[13+3=16]O kitsch trabalha sempre sobre a ânsia de "querer parecer vanguarda" lembra Abraham Moles. O processo de sedução dupla da canção pop(por expansão novideira pseudocientífica e tradicionalismo hedonista pseudoreligioso) submergirá os famosos três acordes em camadas de atmosferas sonoras e hipnoses subliminares, do mesmo modo que engoliu a música geométrica pela ideologia significante(os violinos ao fundo do rap) e o transe mitológico pelo folclore(a onda de acústicos e a percussão maquínica).
[13+4=17]Pagu disse para Oswald: "A industrialização é, pois, por natureza, um desenvolvimento maternalístico". Quando toda a arte se sujeita ao desígnio do evolucionismo adaptativo dos modos de escuta estética o desáine se apresenta como padrão
 de conduta ética do artista, que é reduzido a projetista de sensibilidades através de impulsos semânticos na vida pública privada. Aí, resta ao ruir artear.
[13+5=18]Canção, praça pública da música. Se podemos falar de democracia nos âmbitos do som seria, em termos tonais, o de uma arbitrariedade consentida de relações intervalares. Há caminhos sonoros que todos percorrem, há os cumes e cimos. Do metal ao doom há um duplo movimento de criação de uma micropolítica estética própria, ao mesmo tempo uma guturalização animalesca das macroestruturas industriais da forma-banda e uma complexificação das microestruturas digitais que almeja uma comedida máscara de desregramento. A corrupção se miniaturiza e toma entornos de uma opção estética, lógica da preferência tribal. Dietas das escalas pantone de ruído.
[13+6=19]A escultura ruidística como estilística do drone já tomou até mesmo as salas de dança com o Umwelt(Maguy Marin) mas ainda se mantém como linguagem de 
resistência criativa à cultura capital nos undergrounds de todo o mundo. Merzbow pode bem ser colocado como o legado de Steve Reich e também como membro de uma guerrilha postgrindgore crystalpunk. Isto se dá porque o drone enquanto arquitetura fluida é a escolha pela especialização nas massas bonitas e sublime(imperativo estético legal kantiano), onde a formação sobrepassa a informação pela sua completa aceitação. 
[13+7=20]O modelo dos carros muda, o som dos motores continua o mesmo. Enquanto você não parar seu carro não fale do meu drone, enquanto seu carburador queimar ossos não reclame de meu cigarro. Eis o ruído como nuvem de proteção radioativa, escudo eletromagnético da escuta nômade contra quaisquer arapucas de estilos. Bruito o retorno pós-apocalíptico à natureza da acusfera ionizada pelos impérios radiantes. Pitágoras a Orfeu no túmulo de Hermes: "Inaudivelmente alto, enternamente durante, longe alcançando", quando abre os olhos para ouvir a resposta vê Orfeu se afastando no horizonte cantando.
[13+8=21] Ao ruído nem som nem música resistem. À cibernética, rede
 de volantes de volantes de redes de poderes, o carro serve de catedral barroca hipermoderna. Gonzalez me disse na lojinha de souvenirs da capela de ossos: "O modo diabólico está para o pós-moderno como a imagem do cristo para os barrocos". Na democracia dos signos, o ruído(e isto pode incluir tudo que soe de acordo com o desejo de escuta) é relegado ao âmbito de loucura, fazendo da própria escuta uma doença por envenamento(pharmakón).
[13+9=22] Devemos compreender que o registro direto do som é um fato novo na história do homem (a que os teosofistas nomeavam prisma das cores pela luz): data de pouco mais de meio século. Pensemos também no desenvolvimento dos processos audiovisuais(a harmonia sinestésica). Na época da reprodução da obra de arte(XV), torna-se obsoleta a idéia da arte desfrutada enquanto objeto raro e aparece a idéia da arte como contágio semiótico(Burroughs) A própria idéia da arte(III) é posta em questão. O que observamos em no
sso tempo é a explosão da informação sonora. A fartura(e miséria) do nosso tempo(ruídos inclusive) aumenta na medida mesma em que se difunde pela coletividade. A massa consome signos sonoros em massa. O modo tradicional de ouvir e compreender a música constitui uma pré-ordenação arcaica, com seus significados esclerosados, que não podem ser impostos ao grande público, pois a este o mundo industrial fornece tantos e tais meios de acesso e consumo do mundo sonoro, que ele próprio vai desenvolvendo sua capacidade de seleção e inteligibilidade. O que era qualidade se transforma em quantidade e é preciso encontrar os signos correspondentes a esta, para sua efetiva comunicação. O mundo das coisas vai-se dissolvendo e cedendo lugar ao mundo dos signos e da comunicação vital e vivencial. O mundo das coisas é feito de posse privada, o mundo dos signos, para a comunicação e a cultura pravida. Os objetos industriais(incluindo sua música), hoje, participam também da natureza da lingu
agem. O caos da informação sonora que nos aturde está a exigir uma ordem (não-definitiva - mas probabilística e mutável). Ordenar é selecionar e codificar. Codificar é transformar em signos - significar, tornar inteligível. Portanto, é comunicar. Aos trabalhadores do ruído, resta trabalhar dentro dos meios de comunicação de massa até que o sistema se transforme e seja absorvido. E ruir como imanência, ser o barulho de si mesmo no corpo coletivo. Love is noise! Zumbi indo!

31.10.2008 - Esquizotrans e Curso na UNB

Apresento algo porvir da pele, do suor e do sêmen com o coletivo Esquizotrans e o grupo Solange, Tô Aberta no festival Funfarra de Brasília
------------------------{performance para esquizotrans}------------------------
Toque Ubiquo
Movimento primeiro: Um homem se senta em silêncio olhando os olhos do público e ouvindo seus corpos enquanto a máquina grava. Ele perdura o silêncio até que este seja interrompido por alguma palavra acima de -15dB.
Movimento segundo: Escolhe, então, alguém do público e com um microfone grava os sons de sua pele, pelos, poros e vestimentas por 5 minutos.
Movimento terceiro: Pede à mesma pessoa que então o grave enquanto ele altera os sons digitalmente.

Três palestras na UNB: Musicaridade, Filosonia & Erotonia Tácita. Para inscrições e participação no curso não-presencial promovido pelo CEPES e pela pós em Filosofia, acesse http://www.gie.cespe.unb.br
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I.Musicaridade
“A música não funciona. Quantas canções de amor há e ainda não nos amamos?” John Lennon
1.1. Introdução à inefabilidade aural (Heráclito e o ruído do rio de fogo), incognosciência sonora (Bachelard, o som e os sonhos, e a fenomenologia do efêmero) e irrepresentabilidade musical (a Jaula de Cage no confissionário de Foucault).
1.2. Sedução e escuta (teleologia do gemido comparada à do gozo). Qual o som do sangue? A arte de merda e o coração de ouro. 
"Music is not a language. Any musical piece is akin to a boulder with complex forms, with striations and engraved designs atop and within, which men can decipher in a thousand different ways without ever finding the right answer or the best one. By virtue of this multiple exegesis, music evokes all manners of phantasmagoria, as would a catalyzing crystal. - Iannis Xenakis
1.3. Três profundidades da pele do som (som-ruído-epiderme,música-derme,som-silêncio-hipoderme). Três modos de amar sonoro: caridade (ágape-iemanjá), amizade (filia-iansã), erotismo (eros-oxum).
1.4. Caridade como pressuposto da estética sonora (Caritas, ama de leite das musas). O anseio pela beleza (criado por esta mesma) e da arte como consolo metafísico (variações do Zoroastro persa sobre o Nietzsche compositor de liedez passando pelo Zaratustra cristão de Strauss, e Javé).
1.5. De como a beleza formal (Berio e o gesto musical nos escombros da Broadway) se recolheu ao silêncio dos ruídos (Debussy e A Mar, Satie com as mobílias) devido à mercantilização da caridade (Smeták, heremita no instrumento) levando-nos a uma proliferação da escuta plástica (pop, monotonia, emo e rótulos do desamor moderno-romântico em Bowie e Veloso) na harmonia contextual (Schaffer e as relações entre ecologia e economia) da atual acusfera (ciberfonia, capital é desafeto) transpassando os processos de sedução por dança melódica (Amadeus irônico, Bach crente, Berlioz erotômano, Chopin sombrio, Lizst sarcástico) na hierarquia da altura (Catherine Clemént na ópera com Freddie Mercury assistindo à derrota do feminino).
1.6. Resistência (musicoterapia e cancioneiro de auto-ajuda) e insistência (Coltrane e o Salmo ao Amor Supremo) na caridade de escuta (Keulheutter e Andrômeda, Stockhausen e Sirius) e composição geométrica dos fractais sentimentais-lógicos (Kepler, astronomologia e o compositor como composição) da música.
“E não seria o dever a forma altruísta do amor?” Jean Paul Sartre em “A Imaginação”
"Sem o imperialismo do conceito, a música teria substituído a filosofia: seria então o paraíso da evidência inexprimivel, uma epidemia de éxtases" Emil Cioran

II.Filosonia
“Quanto maior o rio, menos ruído ele faz.” Provérbio Tupy
2.1 Introdução à impregnação (Novalis e a luz se decompondo em algo mais que cores e o artista como sistema nervoso da natureza) por contágio aural (Diamanda Galas e o estupro de Adonis). 
2.2 Harmonia entrópica (Jung e a ausência de foco entropológico do silêncio imanente) dos afetos (Aristóteles e as amizades como fim da Metafísica, políticas do corpo aural).
2.3 Ruído (“Fedor nos ouvidos. Música não-domesticada. Principal produto e testemunho comprovatório da civilização” segundo Ambrose Bierce) e desperdício (Mark Twain e a galinha que gemia como se botasse asteróides). 
2.4 Inutilidade (Domenico DeMasi e Roussel tirando um cochilo na rede) como pressuposto tanto da amizade (Cage e a gagueira de Buckminster Füller) como da composição de uma escuta (Arcano VI da periferia orelha ao cerne do tímpano onde jaz o tambor do julgamento dos ritmos de encontro).
2.5 Melodia de timbres como fluxo do menor atrito (sintonia e sincronia) por entre as redes da ruidocracia (Heidegger e a computação como fim da lógica ocidental).
2.6 Audioadicção (Burroughs e as duas abstinências, Cioran e o tédio) dos afetos (Crowley disse “Bruxos[amigos] do mundo, uni-vos” enquanto Piva pixava nos poliedros “Xamãs[amigos] no mundo, espalhemo-nos”) e capitalismo subjetivo do aparelhamento das redes (“pirate ships in the chips  animals territories”).
“So don't fear if you hear, A foreign sound to your ear, It's alright, Ma, I'm only sighing.” Bob Dylan 

III.Erotonia Tácita
“Prometeu é antes um amante vigoroso a um inteligente filósofo.” Mircea Eliade
3.1. Introdução ao erotismo do tom silencioso (drone, monoatonia e o mantra do ruído). Metamorphopoiése e o intrincar entre processo e produto (Arcano III do contraste ao envelope), o palestrante não falará mais, mas apenas incitará os presentes à ação.
3.2. Práticas acústicas (foco auditivo, morfomicrofonação, dançaural).
3.3. Práticas acusmáticas (rugosidade, fluência e corte-ex em edição sonora).
3.4. Práticas harmônicas de acústica contextual (fonosmose, equalização, regência de objetos sonoros).
3.5. Práticas aurais (metaescuta, retroescuta, dançaural).
3.6. Práticas radiais (projeção, difusão, radiação, emanação).
 “Através da obediência ativa [ao desejo], a audição torna-se sensível e clara.” Hexagrama Ting do IChing
------------------------ [um manifesto esquizotrans] ------------------------
por Hilan Bensusan e Fabiane Borges
Não acreditamos mais no esgoto a céu aberto que separa a alma da genitália. Nem conseguimos mais nos enganar com a pornografia da carochinha de que não há almas dentro da alma, nem genitálias dentro da alma, nem genitálias dentro das genitálias, nem papai noel sem xoxota. 

Não aceitamos a tirania da monossexualidade sã e salva; deixem a Electra comendo o Édipo de pauzinho. Chega destas obsessões com porcas e parafusos fixos, nem somos feitas de aço inoxidável e nem de desejos curáveis, eles são obscenos e tem neconas mesmo que sem zarô, cavalas em disparada, necas de pitibiriba. Que tal eu virar Elke Maravilha e depois o Barack Obama e depois a Herculine Barbin e depois Max Ernst com uma bunda de Carla Peres antes de você terminar de gozar? Não aceitamos a tirania das monoidentidades e vamos passar a portar mais de um equipamento sexual, seremos portadores de mais de uma fissura retroativa em mutação, portadores de mais de uma carteira de identidade – uma para cada órgão do corpo que formos inventando. Não me diga que se lembra? Finja que está fingindo, improvise no seu bairro as pernas abertas e passe por baixo delas porque depois do arco-íris há uma língua, um gemido e uma hiena. Que é de lixo que somos feitos; pinto no lixo, reciclado em cotovelo, tornozelo virado da mãe do avesso, toda retráctil.

29.08.08 - PUC SP palestra Filosonia 0.2

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Fala-se por tédio e vaidade. Há muito desistimos da verdade por nos enfadar, mas não da beleza que nos alimenta a vaidade.

A música é anterior ao som como a dança precede a fala. O som é a sublimação dos corpos em energia através do ar do mesmo modo que a luz é a sublimação dos campos eletromagnéticos através das cores em música.

O rádio é uma substância eletromagnética implacável que avança irresistivelmente em todas as direções nas dimensões sonoras contra a qual toda resistência é inútil, logo artística. Seu uso pelas corporações humanas difusoras de informação, de maneira semelhante, submerge-nos na quantidade sempre maior de produção cultural pela reprodutibilidade técnica, sem se importar com os limiares de cognição singular, de modo que a música se torna o desdobramento fractal do ruído, ruído entre ruídos.

A rádio foi o pequeno riacho que moveu a compreensão musicante geométrica pré-industrial renascentista para a caosmose digital analógica por entre as margens das interfaces maquínicas (incluindo as abstratas) modernizantes que formam o contemporâneo limiar bauhaus-barroco (minimalismo-maximalismo).

De seus entrechoques surgiram os dispositivos de controles que moldaram as harmonias contextuais da acusfera tecnocrática no século XX, o fetiche musical desde a tomada pela voz (Hitler radialista) até a captura pop plena das paradas, acompanhada paralelamente pela resistência bélica à beleza pelos experimentadores limítrofes do som em suas buscas por novos modos aurais, como o walkman em sua tecnologia de guerra de gestação campos de batalhas subjetivas e corporais.

Outras cristalizações de transcópia, multifragmentação até, em última instância, a plena logaritmização do som da música, fizeram com que tal riacho espectral tornasse-se caudaloso e preenchesse de significados toda a gama coloral do mar do cinema(kýnema), ao mesmo tempo que, a escuta narcísica se prostasse diante deste como um lago de águas sujas paradas em estilos buscando por si mesma.

Se, no mito romântico da música ocidental, escutávamos música por entrega aos paradoxos entre razões e paixões, o que nela há de além-humano ou sua dinâmica geométrica enérgica sutil porvir. Na hipermoderna escuta acidental, rui em toda parte e sempre só perguntas, urra alto-falantes, carros, restaurantes, eleva dores a ruas, faz-se salas de espera de ginástica de escritório(cubiculização musical), nas orelhas tapadas por fones(autismo strictu senso) kaleidofonias reinscrevem o símbolo no ícone, reinstrumentação do corpo (incorporação sonora-ritual), atemporada, esfacelada, rockjazzraggagorespeedtechtrancehiprapnbglitchbluessamba em óperação contínua da zona aural, modalismo arcaico ressignificado pela descontextualização. A obra de arte total não permitiu à música respiro além da representação sonora, mesmo que já tenhamos ultrapassado os rigores do léxico musical em direção a novas formas de linguagem pós-alfabéticas.

Sendo a música relegada como a própria representação do efêmero, não devemos esperar que ela se mantenha desta ou daquela forma por mais tempo que ela mesmo o demande no devir. Mas a nós está vedado saber da vontade dos sons, das vozes das musas, dos sabores do tempo... a não ser quando estes já tenham passado. Numa questão musicológica: Quais seriam os pressupostos para uma est-ética instantânea? Como nos manteríamos apaixonados pelo que se mantém em fluxo?

Fluxo em que tudo se mistura numa pasta sinestésica ao mesmo tempo kitsch e sagrada, a música é o produto ideal intocável e inquestionável. As imagens quando condensadas se tornam música, a moeda do capitalismo cognitivo da sociedade espectacular. Sem que se saiba quem seu compositor, já que o que se passou a compor foram os próprios ouvintes. Tal música transfigurada em ruído das séries aurais demanda o anonimato em nome da subjetividade coletiva(micropoder da ruidocracia), sem que se distingam o começo de uma ou o fim da outra nesta trilha sonora, pois neste campo filosônico entre música e som jaz o inefável para ambas e para nós: o silêncio que desistimos de ouvir.


agradecimentos a Márcio Black e todo mundo da http://www.dadaradio.net
aos músicos participantes: Daniel Avila, Henrique Iwao e Tom Om.

01.08.2008 - Plano B(RJ)

O Canto do Albatroz
Mar Aberto do Inferno Plástico
release opontodeinterrogação?
nomear qualquer devaneio sonoro não seria extirpá-lo de qualquer potência formalmente musical? por que somos tão viciados na fonética(poética imanente do verbo)? se a música perdeu o sentido, o som é uma instância confiável[corolário da fractação luminal cromática]? um release não seria a busca dum preservativo para a escuta, tanto do compositor quanto da composição? estamos usando a tecnologia para torná-la mais ridícula ou a representação só retroalimenta o cadáver faminto de Ópera? isto é uma erudição com seríssimas restrições orçamentárias mascarada sob a fenomenologia do trans-fi{dança qualitativa
 lofi hifi}? se tá todo mundo querendo só colar numa balada pra pagar de alternativo, tomar uns goró e ficar conversando com um barulhinho de fundo, por que se importar com a semântica do questionamento? opontodeinterrogação? é só outro nome daquele pilantra do f? para suas performances? qual seria a acústica da eletricidade?

processo plástico
Inferno Plástico é uma kitschfonia (opereta giocosa segundo Amadeus) onde o gesto (Berio) de formulação plástica da obra (o fogo afinando as cordas segundo Smeták) de arte sonora é deslindada em sete planos(Branca) de movimentos descendentes [ holístico, monódico, átmico, piritual, mental, astral & físico ] em direção ao cerne da Comédia. Assim como Dante(Palestrina Sepultura) fora acompanhado por Virgílio, seremos nós sob o nome fictício f? acompanhados por Stockhausen(Flo Menezes), incorporado desde a estrela Sirius na figura de Miguel Cão Exu das Resinas, para fazer esta travessia além do bem e do mal no divertido universo da música.

do oceano plástico
Durabilidade, estabilidade e resistência à desintegração são as propriedades que fazem do plástico(e da música) um dos produtos com maiores aplicações e utilidades ao consumidor final(ouvinte hedonista). São produzidos anualmente cerca de 100 milhões de toneladas de plástico(canções de amor A B A B A C D A B D D) e cerca de 10% deste total acabam nos oceanos(no ruído), sendo que 80% desta fração vem de terra firme(do mercado cultural). 

Vórtex(entitade bailante)

No oceano pacífico(no ruído delicado) há uma enorme camada flutuante de plástico(estruturações dinâmicas dos modos de escuta "fake"), que já é considerada a maior concentração de lixo do mundo(a radiodifusão, a teledifusão, a digitodifusão), com cerca de 1000 km de extensão(vide google), vai da costa da Califórnia(do vale do Silíncio), atravessa o Havaí(onde gravam Lost) e chega a meio caminho do Japão(vide Paprika) e atinge uma profundidade de mais ou menos 10 metros . Acredita-se que haja neste Vórtex de lixo cerca de 100 milhões de toneladas de plásticos de todos os tipos(a tipologia classicizante do 2.0).
Pedaços de redes(jingles antigos), garrafas(poesias sonoras), tampas, bolas(planimetria akrónica) , bonecas(espectrosoperísticos), patos de borracha(preservativos aurais), tênis, isqueiros(rituais musicantes), sacolas plásticas, caiaques, malas(pop) e todo exemplar possível de ser feito com plástico(sonoplastia). Segundo seus descobridores, a mancha de lixo, ou sopa plástica tem quase duas vezes o tamanho dos Estados Unidos(MTV).



Pesquisa-se esta mancha há 15 anos e compara-se este Vórtex a uma entidade viva, um grande animal se movimentando livremente pelo pacifico(biofonia). E quando passa perto do continente, tem-se praias cobertas de lixo plástico de ponta a ponta(vide carnaval).

tartaruga deformada por aro plástico
à moda dos gatos bonsai


A bolha plástica(escuta hedonista ou musical) atualmente está em duas grandes áreas ligadas por uma parte estreita(ruído urbano). Referem-se a elas como bolha oriental(misticismo cageano) e bolha ocidental(maximalismo stockhausênico). Um marinheiro que navegou pela área no final dos anos 90(f?) disse que ficou atordoado com a visão do oceano de lixo plástico a sua frente. 'Como foi possível fazermos isso?' - 'Naveguei por mais de uma semana sobre todo esse lixo e nele me banhei'.
Pesquisadores alertam para o fato de que toda peça plástica(sample) que foi manufaturada desde que descobrimos este material, e que não foram recicladas, ainda estão em algum lugar. E ainda há o problema das partículas decompostas deste plástico(releituras). Segundo dados puros, em algumas áreas do oceano podem se encontrar uma concentração de polímeros(harmônias) de até seis vezes mais do que o fitoplâncton(tríade), base da cadeia alimentar marinha(melodia).

Todas a peças plásticas acima foram tiradas do estômago desta ave(como um canto do catalogue de Oisseaux de Messiaen)

Segundo PNUMA(R.Murray Schaffer), o programa das nações unidas para o meio ambiente(os higienistas do mundo sem ruído), este plástico é responsável pela morte de mais de um milhão de aves marinhas(o canto das aves imitam os motores) todos os anos. Sem contar toda a outra fauna(subjetiva) que vive nesta área, como tartarugas marinhas(carapaças geométricas), tubarões(dentes dos nervos auriculares), e centenas de espécies de peixes(senhores do labirinto antes de sua cristalização plástica). 

Essa deliciosa sopa plástica pode funcionar como uma esponja(aparelho de captura sinestésica), que concentraria todo tipo de poluentes persistentes(guerrilha semiótica), ou seja, qualquer animal que se alimentar nestas regiões estará ingerindo altos índices de venenos(propaganda ideológica), que podem ser introduzidos, através da pesca(composição), na cadeia alimentar humana, fechando-se o ciclo, na mais pura verdade de que o que fazemos à terra(à harmonia contextual) retorna à nós, seres humanos(ouvintescompositores).


Confiram outras fontes: The Independent , Greenpeace e Mindfully

05.07.2008 - Lugar Impróprio


"por que seu nome nunca consta no flyer, f?" - Elze Monteiro

28.06.08 - Anfiteatro do Parque Villa Lobos

Vou apresentar a Lupiniana para Metal e Pinho na festa abaixo, Sábado agora. Compareçam!